Até os dias de hoje vemos muitas pessoas seguindo a teoria que algumas igrejas pregam: de que o pecado do nosso mundo é o indivíduo, não a sociedade. Transferindo o chamado "pecado social" para o pecado carnal, sexual. O homem é impuro, o sexo é impuro, a sociedade é limpa, cheirosa, anti-séptica. Será? Dentro desse processo social, que não surgiu pela igreja, mas claramente foi endossado por ela em suas parcelas mais conservadoras, as mulheres são as mais impuras. Isso se reflete na forma de vivermos, de consumirmos e de nos expressarmos social e individualmente. Quando vamos as drogarias, vemos milhares de produtos para a higiene íntima da mulher, desodorantes para vagina, moldes para depilação, além de uma série de produtos para garantir que nós, as impuras, sejamos menos sujas. Os homens, pelo visto, já nascem com as genitálias limpas, não havendo razão para se preocupar. A companhia de metrôs de Nova York, "a cidade mais civilizada e livre do mundo", proibiu este ano a propaganda de uma calcinha voltada para mulheres que estavam no período menstrual. Porque a menstruação é, obviamente, muito suja para a sociedade americana, cujo sangue derramado no Oriente Médio não parece causar tanto desgosto quanto o período menstrual de suas mulheres. E por falar em Oriente Médio, a realidade do estupro e de outras formas de violência contra a mulher no Ocidente não são nesse momento parâmetro para essa excursão "civilizatória" engajada por grandes lideres americanos. A mulher que deve ser protegida, ao seu ver, é a mulher que consome, portanto a mulher que trabalha. A mídia mostra como conquista social muitas "anti-heroínas" (Frida Khalo, Malala, entre outras) sendo vendidas agora como bonecas, tendo suas historias contadas em livros infantis. Não descarto a importância desse processo, porem temos que nos lembrar que a mulher hoje possui um poder de compra muito maior do que possuía há cinquenta anos atrás, logo, e de se esperar que um mercado voltado para nós, mulheres, cresça. Porem, este foi infelizmente pensado para atingir nosso poder de compra e não para suprir as necessidades que temos como pessoas ou para representar genuinamente os valores que carregamos. O corpo é nosso, tem que ter vacina anti HPV para adolescente sim, tem que discutir aborto sim e denunciar discurso de ódio e qualquer outra forma de violência sim. O corpo é nosso, o pecado é de vocês.
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AutorComo diria Alice Ruiz: Sou uma moça polida levando uma vida lascada. Brasileira, vinte sete anos e alguns grilos na sacada. |